
Foto: Saulo Cruz/Agência Senado
O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse
acreditar que o Brasil pode vir a se destacar no cenário internacional caso
haja uma escalada da guerra tarifária entre China e Estados Unidos. Galípolo
deu a declaração nesta terça-feira (22), durante audiência na Comissão de
Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.
Para Galípolo, a diversificação da pauta comercial brasileira
e a força do mercado interno são fatores de forte atração para investidores
internacionais.
“A diversificação que o Brasil possui em sua pauta comercial,
somada a um mercado doméstico relevante, passou a apresentar o país como um
local de proteção. Na comparação com seus pares, o Brasil pode se destacar
justamente por essa diversidade”, disse o presidente do BC.
A audiência pública desta terça foi convocada pelo presidente
da CAE, senador Renan Calheiros (MDB-AL). Na sua fala, Galípolo disse que a
guerra comercial atual pode provocar uma desaceleração econômica global mais
intensa do que a prevista inicialmente, com efeito sobre os preços de mercado
no Brasil e no mundo.
“O que estamos vendo agora é um movimento que pode caminhar
para um cenário de aversão ao risco. Se essa guerra tarifária escalar, podemos
ter uma desaceleração mais abrupta e mais forte da economia global”, alertou
Galípolo.
Sobre a inflação, que se mostra em viés de alta desde o ano
passado, o presidente do BC disse que há incômodo dentro do Comitê de Política
Monetária (Copom) pelo fato de a inflação estar acima da meta estipulada. O
Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrou 2024 em 4,83%, acima da
meta de 3% ao ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para
mais ou para menos.
“Obviamente, estamos todos no BC incomodados por não estarmos
cumprindo a meta”, revelou o dirigente.
Ele salientou que, em relação às altas taxas de juros, sempre
é questionado no exterior como é possível o país mostrar um dinamismo tão
grande na economia mesmo com a Selic em patamares elevados. “Talvez existam
alguns canais entupidos na política monetária, que acabam exigindo doses mais
elevadas do remédio, ou seja, juros mais altos, para se obter o mesmo efeito”,
afirmou.
Nesse processo de aumento da taxa de juros, Galípolo brincou
dizendo que ao Banco Central sobra o papel de ser o “chato da festa” para
tentar derrubar a taxa básica de juros.
"Quando a festa está ficando muito aquecida e o pessoal
está subindo em cima da mesa, tira a bebida da festa. Mas também quando o
pessoal está querendo ir embora, você fala: ‘Fica, está chegando mais bebida,
fiquem tranquilos, vai ter música, podem continuar na festa’. Então você tem
esse papel meio chato de ser o cara que está sempre na contramão", disse
Galípolo.
Para o presidente do BC, a solução para o recuo na taxa de
juros passa por reformas estruturais de longo prazo, muitas delas fora da
alçada do Banco Central.
“Não vamos ter uma bala de prata. Vai ser preciso bastante
debate com a sociedade”, colocou.
Ainda sobre os desafios estruturais para o funcionamento da
política monetária no país, Gabriel Galípolo reforçou que um dos pilares da
agenda do Banco Central é a normalização da política monetária, que ainda
enfrenta entraves.
“Existe um debate fora do Brasil sobre como a economia
brasileira segue dinâmica mesmo com uma taxa de juros restritiva. Isso sugere
para nós que os mecanismos da política monetária no país talvez não tenham a
mesma fluidez que em outras economias”, explicou.
Por Bahia Notícias