
Foto: Tânia Rego / Agência Brasil
O Brasil estagnou na redução do analfabetismo funcional e a
condição atinge 29% da população de 15 a 64 anos. Esse é o mesmo patamar que o
país tinha em 2018 e ainda um recuo em relação a 2009, quando alcançava 27% dos
brasileiros.
O resultado é do Inaf (Indicador de Alfabetismo Funcional),
estudo coordenado pela Ação Educativa e que teve início em 2001. Até 2009, o
indicador seguiu em contínua queda na proporção de analfabetos funcionais no
país, mas desde então segue praticamente inalterado.
O estudo entrevistou 2.544 pessoas em todas as regiões do
país. As entrevistas foram feitas pessoalmente com a aplicação de testes com
perguntas que refletem situações do cotidiano, em diferentes graus de
dificuldade. A margem de erro é de 2 pontos percentuais.
O indicador considera que o analfabetismo funcional pode ser
dividido em dois níveis: absoluto e rudimentar.
Na última edição, 7% da população dessa faixa etária é
considerada analfabeta absoluta, são aqueles que não conseguem ler palavras ou
um número de telefone. Outros 22% ficam no nível de alfabetismo rudimentar, que
é quando sabem ler e escrever, mas têm dificuldade para entender textos mais
longos ou fazer contas com números maiores.
"A alfabetização é um processo contínuo, por isso,
consideramos que existem níveis de proficiência dentro dele. É bastante
preocupante que a proporção de jovens e adultos brasileiros no analfabetismo
funcional esteja estática há tanto tempo. De 2018 para cá, não houve
avanço", diz Ana Lima, coordenadora do estudo.
O estudo indica que a maioria dos analfabetos funcionais são
pessoas mais velhas, 65% deles têm entre 40 e 64 anos. Mas há ainda uma
proporção significativa entre os jovens de 15 e 29 anos e com os que têm entre
30 e 39 anos, ambos com 17%.
Os dados também indicam uma transformação no cenário
educacional brasileiro. Para os pesquisadores, a queda do analfabetismo
funcional nos primeiros anos do indicador são reflexo da ampliação do acesso ao
ensino fundamental e médio e a ampliação de jovens que concluem a educação
básica.
No entanto, a estagnação do indicador nos últimos anos
reflete a baixa qualidade da educação brasileira, já que os dados mostram uma
proporção grande de pessoas que passaram pela escola e, mesmo assim, não
tiveram garantido o direito de serem plenamente alfabetizadas.
O estudo identificou que 17% da população que concluiu o
ensino médio ainda está no nível do analfabetismo funcional. Até mesmo entre os
que concluíram o ensino superior, 12% estão nessa condição.
"Uma percentual grande da nossa população jovem está
saindo da escola condenada a passar a vida toda como analfabetos funcionais. A
pandemia justifica uma parte desse problema, já que as escolas ficaram fechadas
por dois anos e atrapalhou o aprendizado, mas não é isso", avalia Ana.
Para ela, só garantir o acesso dos jovens à educação não é
suficiente, mas é preciso que o país invista de fato na oferta de um ensino de
qualidade e significativo. "Muitos jovens na periferia enxergam a escola
como algo que atrapalha a vida deles, como algo sem sentido."
Ana também destaca que os dados mostram a importância de o
país investir na ampliação da EJA (Educação de Jovens e Adultos), que vive nos
últimos anos um processo de esvaziamento. Ela avalia ainda a importância de se
repensar a oferta dessa modalidade, a qualificando para as demandas atuais.
"Há alguns anos, se associava à EJA como a educação
voltada para a alfabetização de adultos. Nosso problema é que agora não temos
só apenas aquele idoso que não aprendeu a ler e escrever porque teve que
trabalhar na roça quando era criança, agora a gente tem jovens de 16 ou 17 anos
saindo da escola sem ser plenamente alfabetizado."
ALFABETIZAÇÃO NO CONTEXTO DIGITAL
Pela primeira vez, o Inaf também avaliou a inclusão do
alfabetismo da população no contexto digital. De uma maneira geral, os dados
indicam que 25% dos brasileiros com idade entre 15 e 64 anos têm baixo
desempenho em atividades digitais.
Essa proporção, no entanto, aumenta conforme o menor grau de
alfabetismo que possuem. Os dados mostram que 40% dos alfabetizados
proficientes apresentaram médio ou baixo desempenho em tarefas digitais e 95%
dos analfabetos tem um desempenho baixo.
Para avaliar as habilidades digitais, o estudo pediu aos
entrevistados que realizassem tarefas corriqueiras usando um celular. Em uma
delas, eles precisavam fazer uma compra e pagar via pix. Em outra, eles
precisavam fazer um cadastro em um site.
"A grande constatação é que, quanto mais frágil é o
alfabetismo tradicional, mais aquela pessoa fica vulnerável no ambiente
digital. Incluímos a avaliação do alfabetismo no contexto digital porque cada
vez mais as pessoas estão sendo obrigadas a entrar para esse mundo e, se não
dominam essas habilidades, acabam até mesmo por perder direitos básicos."
Por Bahia
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